quarta-feira, 27 de julho de 2016

ALEIJADINHO , O GRANDE ARTISTA DAS IGREJAS DE MINAS GERAIS , VENHA CONHECER , VISITE AS CIDADES HISTÓRICAS DE MINAS GERAIS , POVO BÃO SÔ...

ALEIJADINHO , O GRANDE ARTISTA DAS IGREJAS DE MINAS GERAIS , VENHA CONHECER , VISITE AS CIDADES HISTÓRICAS DE MINAS GERAIS , POVO BÃO SÔ...
ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA.
(1738 a 1814)

Antônio Francisco Lisboa, popularmente conhecido como o Aleijadinho, nasceu em 1738 na antiga Vila Rica, atual Ouro Preto, então capital da opulenta província das Minas Gerais do Ouro, filho ilegítimo do arquiteto português Manoel Francisco Lisboa e de uma de suas escravas africanas.
Morreu em 1814 na mesma cidade, em situação de extrema pobreza e em meio a grandes sofrimentos, produzidos por uma doença degenerativa de natureza desconhecida, em virtude da qual perdeu progressivamente o uso dos dedos das mãos e dos pés, sendo obrigado a andar de joelhos e a ter os instrumentos atados para poder esculpir.
Como conciliar aspectos aparentemente tão negativos - filiação ilegítima e escrava, handicap físico e penúria econômica, com a intensa produtividade de uma longa carreira artística, marcada por obras de excepcional qualidade, que lhe valeram o reconhecimento de principal artista de seu tempo no Império Colonial Português?
Desde cerca de 1920, quando impulsionados pelo movimento modernista tiveram início no Brasil os estudos científicos sobre o "barroco colonial", gerações sucessivas de pesquisadores vêm procurando respostas para estas questões. O documento-chave é a essencial biografia do artista elaborada em 1858 pelo jurista Rodrigo José Ferreira Brêtas, baseada em documentos de arquivos locais e depoimentos de testemunhas como a nora Joana Lopes, que o abrigou no estágio final da doença.
Entre as informações de primeira mão consignadas neste precioso documento figuram o retrato-falado do artista visto por seus contemporâneos e a descrição dos aspectos mais evidentes da doença que lhe valeram ainda em vida o carinhoso apelido de Aleijadinho.
" Antônio Francisco era pardo escuro, tinha voz forte, a fala arrebatada e o gênio agastado: a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos e esta volumosa, o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto, a testa larga o nariz regular e um tanto pontiagudo, os beiços grossos, as orelhas grandes e o pescoço curto. Sabia ler e escrever, e não consta que tenha freqüentado alguma outra aula além das primeiras letras, embora alguém julgue provável que tivesse freqüentado a de Latim. (...)
Passou a vida no exercício de sua arte, cuidando sempre em ter boa mesa e no gozo de perfeita saúde, tanto que era visto muitas vezes tomando parte nas danças vulgares. De 1777 em diante, as moléstias, provindas talvez em grande parte de excessos venéreos começaram a atacá-lo fortemente ... Por ter neglicenciado a cura do mal no seu começo ou pela força invencível do mesmo, Antônio Francisco perdeu todos os dedos dos pés, do que resultou não poder andar senão de joelhos e os das mãos se atrofiaram e mesmo chegaram a cair, restando-lhe somente, e ainda assim quase sem movimento, os polegares e os índices.
Possuía um escravo africano de nome Maurício, que trabalhava como entalhador e o acompanhava por toda parte: era este quem adaptava os ferros e o macete às mãos imperfeitas do grande escultor, que desde este tempo ficou sendo geralmente conhecido pelo apelido de Aleijadinho. Tinha um certo aparelho de couro ou de madeira continuamente aplicado aos joelhos e neste estado admirava-se a coragem e agilidade com que ousava subir pelas mais altas escadas de carpinteiro. "
Permanecem até hoje no terreno das hipóteses as tentativas de uma identificação precisa da natureza da doença do Aleijadinho. Mal epidêmico conhecido pelo nome de zamparina no século XVIII, lepra e sífilis no século XIX, artrite deformante e porfíria mais recentemente, o interesse de todos estes diagnósticos é entretanto relativo, face à questão, bem mais relevante, do grau de influência exercido pela doença em sua produção artística e na evolução do seu estilo pessoal.
O texto de Brêtas é claro neste ponto. Até cerca de 40 anos Antônio Francisco gozou de perfeita saúde e teve vida normal, trabalhando primeiramente na oficina do pai e em seguida por conta própria, como "mestre de arquitetura e escultura". Se traçarmos uma linha evolutiva, tomando como divisor de águas entre as fases sã e doente de sua vida o ano fatídico de 1777, notamos que a maior concentração de obras se situa justamente no momento em que se manifestam os primeiros sintomas da doença e na década seguinte, que assinala o apogeu de sua carreira artística.
Nesse período o Aleijadinho realiza obras em três cidades diferentes, a maior parte do tempo a serviço das prestigiosas Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco de Assis, que parecem disputar-se mutuamente o privilégio de sua atuação. Entre 1776 e 1780 trabalha simultaneamente em Vila Rica e em Sabará, a mais de cem quilômetros de distância, executando na primeira cidade a portada de São Miguel e Almas e os lavabos das sacristias do Carmo e de São Francisco de Assis e na segunda a obra de talha da Igreja do Carmo, juntamente com as imagens de São João da Cruz e de São Simão Stock dos retábulos laterais.
Em 1781 está em São João del Rei a serviço da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em 1792 novamente em Sabará, voltando em 1784 a São João del Rei para execução da portada de São Francisco de Assis. No ano seguinte viaja a Morro Grande, atual Barão de Cocais, para avaliação das obras da Igreja de São João Batista e, em seguida, a Santa Rita Durão onde realiza a talha dos retábulos laterais da Igreja do Rosário.
Por volta de 1787 executa o conjunto de talhas da capela de Jaguará e possivelmente também o da capela da fazenda da Serra Negra, hoje desaparecido.
Como se vê um ritmo alucinante de trabalho, ainda mais tendo-se em vista que estas viagens demandavam longas jornadas em lombo de burro em estradas precárias, que se tornavam intransitáveis na época das chuvas, como ainda hoje no sertão mineiro. Ritmo este determinado talvez por um sentimento de premonição da precariedade do tempo de que dispunha diante da obra a realizar ou de um inconsciente jogo de compensação substitutiva para driblar a doença e seus percalços.
Os anos 90 vêem seu afastamento temporário de Ouro Preto, afastamento esse que poderia ter tido relação com o clima de efervescência política que ali se manifestava, culminando no abortado movimento de independência política conhecido como "Inconfidência Mineira".
Entre 1790 e 1794 executa, na pequena localidade de Rio Espera o monumental retábulo da capela-mor de São Francisco de Assis de Ouro Preto e nos dois anos seguintes completa em São João del Rei as portadas em pedra-sabão das igrejas do Carmo e São Francisco de Assis. Finalmente, a partir de 1796, radica-se em Congonhas do Campo, onde deveria permanecer até 1806, inteiramente dedicado ao grandioso projeto dos Profetas em pedra-sabão e dos Passos da Paixão em madeira policromada, totalizando 76 esculturas em tamanho natural.
Os últimos anos em Ouro Preto foram pouco produtivos, consistindo apenas em algumas avaliações de obras e projetos. Entre outros os da fachada da Matriz de Tiradentes e dos retábulos colaterais da igreja do Carmo, onde supervisionou por um breve espaço de tempo o trabalho do discípulo Justino, a idade avançada e o agravamento da doença não mais lhe permitindo a execução de obras escultóricas demandando maior dispêndio de energia. Nos dois últimos anos permaneceu prostrado em um estrado de madeira com um dos lados terrivelmente chagado, apostrofando continuamente uma imagem do Crucificado que tinha no aposento, para que "sobre ele pusesse os seus Divinos pés".
Ao contrário do que seria de se esperar, a doença parece ter contribuído de forma mais positiva do que negativa ao desenvolvimento da carreira artística do Aleijadinho, levando-o ao abandono progressivo de outros interesses em prol de uma dedicação total e exclusiva ao universo da criação. É sintomático que o período inicial ou sua carreira, correspondente às décadas de 1750-70, seja o que registre menor número de obras conservadas, a maioria de atribuição incerta pela falta de documentação histórica comprovante. Entre estas, imagem simbólica de sua juventude descuidada e boêmia, um busto de mulher com os seios parcialmente desnudos, executado em pedra-sabão e datado de 1761, tem caráter de exceção, pela temática profana, no conjunto de sua obra de cunho quase que exclusivamente religioso.
Germain Bazin, no prefacio do livro fundamental que dedicou ao Aleijadinho, fala de sua surpresa ao descobrir l'éclosion de ce génie por ocasião da primeira viagem que fez ao Brasil no ano 1945, para a apresentação de uma exposição de pintura francesa contemporânea. Desde o primeiro contato avaliou o artista colonial como "o último dos grandes escultores barrocos " e situou-o na descendência da "gloriosa coorte dos imaginários cristãos ".
Enquanto artista religioso, o Aleijadinho encontrou na tradição cultural do barroco contra-reformista, ainda viva no mundo colonial em pleno século das Luzes, inspiração adequada à expressão da vigorosa espiritualidade cristã que emana de suas esculturas, na melhor tradição da imaginária ibérica, de Montañes a Salzillo.
A invocação de grandes nomes da escultura religiosa espanhola, na confluência da tradição na qual se insere o Aleijadinho, não é aleatória. Com efeito, em nenhum escultor português do mesmo período encontra-se força de expressão equivalente à do artista mestiço brasileiro, cuja única ligação com fontes artísticas européias eram as cenas reproduzidas nas estampas de Bíblias e Missais usados pelo clero da Capitania de Minas Gerais, bem como os Registros de Santos em publicação avulsa, essenciais para a determinação da iconografia dos personagens sacros.
Entre os últimos, tiveram particular influência na formação de seu estilo escultórico os registros alemães das séries assinadas pelos irmãos Joseph Sebastian e Johann Baptist Klauber, de Augsburgo, difundidas em todo o mundo católico na segunda metade do século XVIII, incluindo Portugal e suas colônias ultramarinas. A tipologia fisionômica das imagens do Aleijadinho, bem como seus característicos panejamentos em sulcos profundos e arestas vivas, revelam esta influência germânica, particularmente acentuada na última fase de seu estilo, a partir de 1790.
Neste período final, correspondente à época da realização dos conjuntos escultóricos de Congonhas, o tratamento realista que caracterizava as imagens da fase de maturidade, como os Santos Carmelitas de Sabará e a extraordinária Santana Mestra do Museu do Ouro, cede lugar à estilização das fisionomias e ao tratamento largo dos panejamentos, sugerindo uma economia de meios bastante compreensível, tendo-se em vista a idade e o adiantado da enfermidade do artista.
Esta estilização, que reforça a delicadeza dos traços e a sinuosidade ornamental do desenho das barbas e cabelos, nenhum prejuízo traz à potencialidade de expressão dramática das esculturas, como atesta a emocionante série de imagens do Cristo que comanda as sete cenas dos Passos da Paixão do Santuário de Congonhas. Da Ceia à Crucificação, passando pelos grupos da Prisão, Agonia no Horto, Flagelação, Coroação de Espinhos e Caminho do Calvário, diferentes graus do sofrimento humano são expressos com uma dignidade raramente presente na imaginária barroca. É curioso constatar que esta "dignidade no sofrimento"', que identifica a sensibilidade artística da imaginária portuguesa relativamente à espanhola, tenha encontrado em um artista colonial sua mais alta expressão.
Mas Antônio Francisco Lisboa não foi apenas o mais inspirado escultor religioso do mundo luso-brasileiro e um dos últimos da tradição ocidental. Foi também o arquiteto e ornamentista de gênio, responsável pelo projeto e decoração escultórica de algumas das igrejas de maior originalidade e requinte da arquitetura luso-brasileira. As já citadas igrejas das Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco de Assis nas cidades de Ouro Preto, São João del Rei e Sabará são as que revelam seu estilo de forma mais abrangente, pois além da execução de obras escultóricas em madeira ou pedra-sabão, que eram a sua especialidade, teve ampla participação nos respectivos projetos arquitetônicos e ornamentais.
Nestas igrejas e em outras da região mineira onde realizou obras diversas seu estilo pessoal pode ser reconhecido no elegante movimento ondulatório das fachadas notadamente no Carmo e São Francisco de Ouro Preto, na complexidade e delicadeza dos relevos escultóricos das portadas em pedra-sabão e nas requintadas decorações internas em talha dourada, com seus vigorosos ornatos dourados de desenho sinuoso destacando-se contra fundos claros ou em leves marmorizados azuis. A inspiração vem agora do rococó, assimilado por intermédio de gravuras ornamentais de origem francesa e germânica, importadas em larga escala em Portugal, a partir de cerca de 1750, de onde passaram às colônias de Além-mar.
Sua obra-prima no gênero é a decoração da capela-mor da igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, comandada pelo monumental retábulo dourado ocupando toda a parede do fundo e interligado de forma harmoniosa aos demais elementos ornamentais que culminam na graciosa figura de um Anjo portador de flores na parte central da abóbada. A referência mais próxima são igrejas do rococó germânico como as de Steinhausen, na Suábia, ou a de Wies, na Baviera, que produzem a mesma sensação de requinte e leveza, induzindo à oração na alegria, símbolo de um novo mundo religioso regido pela "Epifania da Graça", como o definiu Philippe Minguet em Esthétique du Rococo.
A utilização simultânea de recursos formais e expressivos do barroco italiano, já aclimatado em Portugal, e do rococó francês e germânico, assimilado em grande parte através de gravuras ornamentais, nada tem de extraordinária, tendo-se em vista o contexto periférico colonial que gerou a obra do Aleijadinho. O que impressiona é a adequação das escolhas de modelos relativamente aos temas tratados, a sintonia com os movimentos artísticos internacionais da época, e a profunda originalidade dessa obra, ao mesmo tempo universal e plenamente inserida na cultura regional e local. Qualidades estas que identificam de imediato a produção de todo grande artista.
Pesquisa na internet por Ray Pinheiro.
Mineiro de São João Del Rei - MG , radicado em Brasília - DF.

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